A CASACOR São Paulo 2024, tem como tema “De presente, o agora”, e inspirou os profissionais a buscarem referências em suas próprias raízes e a refletirem como as decisões cotidianas vão impactar as gerações futuras. Composta por 75 projetos, a edição promete ser um verdadeiro mergulho nas memórias afetivas e na responsabilidade social. Com essa ideia, convidamos o arquiteto Alexandre Mesquita para selecionar cinco espaços que ganharam sua atenção por serem inovadores.
Além de promover a beleza e a funcionalidade, os projetos apresentam soluções que valorizam a economia de recursos e a utilização de materiais sustentáveis. Essa abordagem reforça a importância de escolhas responsáveis, que transcendem o tempo e moldam um futuro melhor.
O que você encontrará neste post:
Os cinco ambientes da CASACOR São Paulo 2024 escolhidos por Alexandre Mesquita
Bruno Moraes – Acalanto e Encontros
Materializado a partir de camadas históricas, contemporâneas, culturais e tecnológicas, o ambiente Acalanto e Encontros, assinado pelo arquiteto Bruno Moraes, do BMA Studio, valoriza as raízes que formaram o país.
Bruno juntou passado, presente e futuro, evidenciada na escolha dos elementos. “Procuro reconhecer as nossas origens nos detalhes e reinterpretá-las dentro de uma leitura atual, pois elas sempre estarão conosco como parte da nossa identidade. Compreendo também que a formação de nossa ancestralidade tem como base o presente que, ao mesmo tempo, nos permite vislumbrar o futuro que desejamos estabelecer”, analisa o profissional.
Bruno Moraes projetou na CASACOR São Paulo 2024 um amplo living, de 59 m2. Por lá um grande tapete de 6 x 5,5 m, produzido com retalhos de diferentes tecidos, texturas, cores e formato. A tapeçaria conta a história de uma canção o de ninar indígena, e evoca um legado longínquo e anterior ao descobrimento do Brasil.
A criação da peça foi do próprio escritório BMA Studio, que usou a Inteligência Artificial e ferramentas de software para transformar o som em formas geométricas visuais, onde cada onda sonora foi isolada e depois montada em uma composição com todas elas entrepostas ate formar o desenho do tapete. A concretização foi feita com a by Kamy Verde.
“Aqui você tem uma paleta muito neutra com uma composição de poucos materiais, mas ao mesmo tempo precisos, em escala e proporção. No teto um tom esverdeado quebra essa neutralidade e leva muito aconchego ao espaço”, destaca Alexandre Mesquita.
Johnny Viana – Colmeia com Mel
Estreando na CASACOR São Paulo 2024, o arquiteto Johnny Viana assina o projeto do Restaurante Badebec. Ele se inspirou nas abelhas para criar o ambiente Colmeia com Mel, um restaurante de 346 m² que mistura natureza e arquitetura.
A homenagem vem de encontro com o tema do evento. “A Terra como organismo vivo alberga inúmeros processos biológicos na sua existência. Organizadas em comunidades complexas, as abelhas se relacionam de forma interdependente com o ecossistema do planeta, sobretudo por meio do processo de polinização. Além disso, o mel – principal produto do trabalho comunitário das abelhas – faz parte da história há milênios. Assim, é imperioso que nos reconheçamos como parte da natureza, a fim de que a existência da nossa espécie seja sustentável e harmônica”, comenta Johnny.
“Aqui temos um espaço muito grande, mas ele conseguiu dar unidade ao ambiente com o uso das cores, dos tons terrosos e elementos geométricos. O uso do verde aliado aos tons neutros. Foi uma junção harmoniosa e muito feliz”, pontuou Alexandre Mesquita.
Foi essa a essência que Johnny buscou traduzir na arquitetura, criando um espaço que harmoniza aconchego, contemporaneidade e sustentabilidade, acolhendo calorosamente todos os visitantes.
Romário Rodrigues – Páginas do Tempo
O arquiteto Romário Rodrigues apresenta na CASACOR São Paulo 2024 o ambiente Páginas do Tempo. Com 38 metros quadrados, a sala de leitura foi projetada para ser um espaço onde os visitantes podem explorar o conceito de temporalidade e a interseção entre passado, presente e futuro através do design e da arquitetura. “A temática deste ano – “De Presente, o Agora”, carrega uma dualidade que transpõe a temporalidade e afirma a visão do tempo como um privilégio, um presente a ser contemplado”, explica Romário.
A escolha dos materiais e dos elementos decorativos foi guiada pela intenção de criar uma narrativa visual que lembre a passagem do tempo. Destacam-se no ambiente a utilização de pedras naturais, como Perla Santana e Orion, escolhidas por suas texturas e acabamentos que variam entre o bruto e o escovado, conferindo ao espaço um aspecto ao mesmo tempo sóbrio e refinado.
A seleção de obras de arte, incluindo peças de Servulo Esmeraldo, artista nascido no Crato, Ceará, visa a estabelecer um diálogo entre as raízes culturais brasileiras e a proposta do ambiente, enriquecendo a experiência dos visitantes com camadas adicionais de significado.
“O ambiente de Romário, ele oferece um aconchego muito grande com essa madeira que ele utiliza e com a iluminação indireta, criando um ambiente bem intimista, diferenciado. Outro ponto que se destaca é o uso preciso das obras de arte”.
Paola Ribeiro – Casa Coral Lugar de Afeto
A proposta Casa Coral Lugar de Afeto de Paola Ribeiro é ser um espaço de acolhimento, conforto e segurança., onde cada cor e elemento se transformam em um convite para sentir e viver experiências.
“Inspirado por essa bagagem emocional, o projeto explorou dentro do espaço os componentes arquitetônicos que carregassem as características de uma casa afetiva, como os tetos de viga aparentes emoldurando os lambris pintados, os quais também nos reportam à época da infância e lembranças reconfortantes, de casas de avó”, explica a profissional, que já contabiliza mais de 25 participações na CASACOR, entre edições no Rio de Janeiro e São Paulo.
“Desta vez, a proposta da Casa Coral na CASACOR São Paulo 2024 é mostrar o protagonismo das cores por meio de uma decoração que evoca acolhimento. Para isso, a paleta de cores foi selecionada com todo o cuidado refletindo o DNA do Colour Futures, o estudo de tendências e cores da AkzoNobel, em uma casa com o estilo acolhedor do brasileiro. A Cor do Ano, Lugar de Afeto, combinada a outros tons das paletas deste ano, cria contrapontos e encoraja sensações e aconchego”, afirma Priscila Perez, gerente de Color Ativação Brasil de Tintas Decorativas da AkzoNobel, fabricante da Coral.
“Neste ambiente , composição de azul com verde com a diferenciação dos tapetes. A utilização dos sofás com tons diferenciados saem do neutro, mas dão o aconchego proposto, além do uso do branco com azul e verde foi extremamente feliz”, ressaltou Alexandre Mesquita.
Gabriel Fernandes – Casa Veredas Simonetto
Gabriel Fernandes, do GF Estúdio, projetou o espaço Casa Veredas Simonetto. É um encontro do arquiteto com suas memórias de infância, da avó que morava no sítio e fazia bolos , da casada tia que o recebia em casa com os primos para brincar, passando por seus momentos particulares e nostálgicos.
O arquiteto buscou os recortes de suas lembranças e misturou com descobertas de uma pesquisa que fez sobre a forma de morar do brasileiro, dessa relação do povo com a própria casa. “A casa brasileira que temos como referência é uma herança do período bandeirista e suas sobreposições, até chegarmos à casa caipira, que fala muito sobre a história da minha família e resolvi homenagear”, conta Gabriel, 30 anos. “Cresci vendo meu pai orgulhoso de suas raízes, com saudade da roça e de tudo o que viveu por lá. Portanto, convivi de perto com um representante nato de parte da cultura interiorana paulista”, acrescenta ele.
Com 120m2, a Casa Veredas Simonetto tem elementos de destaque no projeto como o painel da sala de estar (feito com 608 cerâmicas Brennand, reaproveitadas de uma reforma, em Curitiba), o painel Resistência produzido por Maria Fernanda Paes de Barro (da Yankatu) com o povo indígena pataxó, as fotografias de janelas coloniais típicas de Tiradentes (de Marcelo Oséas), a luminária pendente Arumã (assinada pelo Estúdio MK27 e produzida com técnicas tradicionais de cestarias pelo povo indígena Baniwa), a máquina de costura da vovó (cercada por uma instalação volumosa de linha vermelha, da artista Adrianna Eu) e algumas obras de arte selecionadas.
“A textura que ele trabalha em cerâmica com painel de Brennnad, fazendo uma composição com poucos elementos geométricos, ligados a terra, propriedades do barro foi bastante interessante”, comentou Alexandre Mesquita.
A mostra vai até o dia 28 de julho no Conjunto Nacional.