Equilíbrio e harmonia. Duas palavras que regem uma boa composição na arquitetura de interiores. É o que acredita a arquiteta Luciana Neves. E foram esses dois eixos que serviram de base ao ensaio com arte aborígene, num apartamento em Boa Viagem – onde o contemporâneo, o clássico e o popular deram o tom certo para que o bom gosto e o talento de Luciana e da sua sócia, Adriana Porto, pudessem passar.
“Tudo convive harmonicamente. A questão é equilibrar cor, textura e estilo. E as peças que escolhemos fazem parte de uma coleção lindíssima, em exposição inédita no Recife. Abrimos a casa por acreditarmos muito no excelente resultado que teríamos”, diz Luciana.
Há na arte aborígene – segundo Clay D’Paula, curador brasileiro da exposição “Tempo dos Sonhos: Arte Aborígene Contemporânea da Austrália”, citada pela arquiteta – uma narrativa dos elementos usados para a concepção das telas. E essa narrativa vai costurando histórias, símbolos, traços marcantes da cultura e dos povos que se juntam e formam o povo aborígene. “É a arte mais antiga do planeta. Temos que fugir do pensamento de que a arte é uma invenção europeia. A arte aborígene é muito pura e genuína. Não é abstração. É pura narrativa, passada há mais de 60 mil anos, de geração a geração”, explica.
A narrativa das cinco peças escolhidas entre as 40 que estão expostas na Caixa Cultural até o dia 5 de agosto deram o mote para que as arquitetas criassem a narrativa do ensaio. Assim, elementos trazidos de viagens pelos quatro cantos do Brasil e do mundo somaram-se com maestria. As telas dos aborígenes australianos uniram-se ao branco das paredes, ao verde estonteante do mar de Boa Viagem, à passagem de luminosidade pelos janelões e varandas, ao amarelo de peças do arquiteto Wandenkolk Tinoco, obras de Augusto Ferrer e ao acervo familiar de Luciana Neves. Tudo como ela e sua sócia, Adriana, já haviam adiantado.
“Mesmo que você tenha elementos mais clássicos, familiares, o contraste é fundamental. Ele traz equilíbrio. Quem fez essa revolução foi Janete Costa”, ressalta Adriana.
A força da arte aborígene
A estética desenvolvida pelos artistas aborígenes lembra o minimalismo e o expressionismo, segundo Clay D’Paula. No entanto, as obras criadas por eles trazem uma linguagem visual única e de verdades eternas – lembrando que os artistas indígenas da Austrália, na sua grande maioria, não tiveram contato algum com a arte europeia.
“A arte não é uma invenção dos europeus. Toda cultura tem a sua própria e singular forma de expressão: seja na música, na dança ou na pintura. Não existe diferença entre uma obra de arte criada no deserto e na cidade. Elas devem ser apreciadas e reconhecidas da mesma forma. Esta exposição vem descortinar tais pré-conceitos, reconhecendo as obras criadas pelos artistas indígenas de todo o mundo. A arte aborígene, por exemplo, não é uma cópia, nem uma réplica. Mas uma linguagem visual inovadora e revolucionária”, afirma.
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